domingo, 28 de fevereiro de 2010

o olhar



(h)etér(e)o.


ela me olhava ansiando me revelar alguma coisa. Chamou-me à cozinha e disse ter sonhado comigo por duas vezes. Porém era o segundo sonho que a deixara intrigada.
-Eu morava numa casa próximo ao cemitério São João Batista. Num prédio, na verdade. Não é a primeira vez que sonho com aquele lugar. O prédio é quase em cima do túnel velho. Sei que de repente eu estava no carro contigo. Em plena curva acontece um grave acidente. Sou jogada, num voo continuo, através do muro do cemitério. Quando me deparo com todas aquelas tumbas o cenário se transforma num abismo e sigo voando na mais depressa angústia que me acorda com um grito.
A instrasponível finitude. A indubitável verdade.

sábado, 27 de fevereiro de 2010




A voz que vem do fio
Sem face
Sem cheiro
Sem o gosto dos entre pelos lambidos
Assusta-me...
É o irreconhecível nascendo do familiar
Como pústulas em um corpo são.




O invisível me toca
E eu fico atocaiada.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

pêsames piscianos.




Ah, e a propósito! A Comlurb já recolheu DOZE toneladas de peixes mortos das águas da pobre e degradada Lagoa Rodrigo de Freitas. O que há de bom nessa tragédia? A excelente justificativa dada pela nossa querida e pândega Marilene Ramos, secretária estadual do meio ambiente, que atribui o incidente à VERTIGINOSA variação climática. Qual será a artimanha dos peixes nova iorquinos para sobreviverem lá no rio Hudson?

como nasce uma lenda.




O que te faz imaginar a cena acima? Todo carioca que se preza já viu algo semelhante, não é mesmo? Aquela muvucada levantando para ver quem é o cidadão que paga o mico da vez! Rola aquele burburinho habitual, a praia dá aquela parada e depois tudo volta ao normal. Porém, neste final de mês com temperaturas de deixar o Congo na lanterna das medições térmicas, eis que surge uma nova modalidade de assalto na orla da cidade de São Sebastião! Desejo que o Redentor esteja severamente míope para não ver tamanha profanação da santa paz! Deste helicóptero surgiram três figurões que na cara dura assaltaram algumas vítimas catatônicas com o que se via e não se fizeram de rogados! Levaram tudo e mais um pouco de uma jovem rapaziada que beirava a água na tranquildade da marola e voltaram para a rede salva-vidas, mar adentro, com suas mochilinhas já cheias. E assim zuniram pelo céu sem deixar mais rastros. Deveras interessante. Ao seguirem cruzando o céu lançaram uma faixa que dizia: "ENTREGAMOS GREEN, HAXIXE e SKANK no seu point preferido". O caos tem suas beneces. O fim tem seus começos. A verdade suas nuances.

mexicanos.





ejaculam guacamole.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


Caríssima Dueña,

pensei em escrever. Não sabia para quê tampouco para quem. Pensei em você. Pensei em muito do que nos une. Pensei sobretudo na nossa gana por perder os kilos que nos impedem de voar mais alto. Afinal o corpo pesa. Contudo o corpo pesa o que a alma sente? O corpo pesa o que a mente não mente? O corpo pesa. Minha alma também. A nostalgia me aponta que a angústia é minha. Faz parte de mim. Habita em nós. Em alguns de nós. Há muitas angústias por aí. Mas há as nossas e há a nossa. Há a minha. Há a sua. Há a de todos nós. A nostalgia toma de assombro meu espírito ansioso pelo que vem. Mas só encontro em mim memórias. Estas, no momento, são remotas e singelas. Pueiris e sonhadoras. Lembro do deslumbre que sentia quando via a fantasia revertida em produto da mais bela poesia. Lembro das cadeiras, do frio suave e agradável. Da companhia de minha mãe tão acalentadora. Lembro da alegria catártica de viver o que não se vive fora da caixa de Pandora. Cenas e mais cenas me tocam o coração, dentre muitas, sem razão, encontro um carro que cruza o tempo em Back to the Future! A genialidade monstruosa que tornou pálpavel por infindas vezes viver o que ainda não nos é permitido. Sonhar tem preço. Mas não custa caro. Eu ando atravessando o tempo. Busco o sentido do meu hoje. Encontro nas minhas recordações a resposta. Vivo o sonho e acordo para a realidade. Tento dar conotação onírica à verdade cotidiana mas a saudade é meu fado. Meu fado é minha terra. Minha terra meu degredo. Meu peso é minha vida. O peso é um excesso. A leveza uma sabedoria. O equilíbrio uma utopia?

Aguardo sua reflexão.

Inho.