terça-feira, 13 de julho de 2010

o ermitão.







ao se aproximar de seus 33 anos completos de vida, ele se pôs a refletir acerca de um lugar imaginário, que ocupava, neste mundo de Cristos ateus. A evidência de uma profusão de novos valores socias, que reverenciam, como em uma ode apocalíptica, uma época sem razão e desqualificada, o levaram à sua cruz. E sendo assim, ele criou seu apócrifo profano e sem função. Pois viver sempre foi sua religião. A fé não era morta. Torta, apenas, teria sido a sua visão, que expurgara de si os factos que lhe desegradavam em seu penar diário. Ao seu redor, ele ouvia risos de histeria, risos cínicos e amorais. Risadas, quase sempre, superficiais. Porém ainda existiam sorrisos que lhe apontavam a esperança, através da encantadora espontaneidade. Quando identificava estes sonidos que reverberavam a alegria, ele se entregava aos seus sentidos. Estes lhe diziam que haveria refúgio e exílio. E estes também contavam que era preciso caminhar como um pária, porém orgulhoso, por ser quem se é, e não pertencendo a nada que desprezava, em seu retórico silêncio. Logo, ocultava a face que demonstrava seu desassossego e buscava uma saída estratégica para sobreviver. Em sua caverna decorada, com as cores da aurora, desfrutava da imensidão de si que se expadia, em êxito, pelo encontro consigo. Os honestos têm algum lugar. E é ali, naquele espaço, que ele almejava se aninhar. Desejando ver a vida passar pelas ventanas... Exasperando suas cores, seus ventos e seus ruídos. Ciente, no entanto, de que viveria em um universo paralelo. Envolto nesta particular e profícua atmosfera ele calou-se e observou que sua antiguidade é eremita. Com isso constatou que o reconhecer era seu grande tesouro. E admitiu ser ele um pirata. Admitiu ser ele um aprendiz de feiticeiro. E percebeu-se ninguém, simplesmente, por ser alguém.

Um comentário:

  1. "E percebeu-se ninguém, por ser alguém" - o que nos resta saber, se, além e adiante, sempre será o infinito e o inescrutável! Que lindo aforisma!Texto comovente e bem estruturado! Belo, belo,belo!

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