terça-feira, 23 de novembro de 2010

seco.





ouvi dizer algumas vezes que vivemos em uma mar de incertezas. Ouvi dizer que somos menos que grãos de areias no universo desconhecido. Ouvi dizer uma série de outras ideias sobre nós. Mas eu não me sinto grão de areia. Me sinto embarcado em algum veleiro perdido e sem bússola. Estou nele. Eu sou esse barquinho que procura o aconchego em algum recanto aonde eu possa me alimentar, descansar e quem sabe encontrar um norte. Ou um sul, ou um oeste e vale também um leste. O necessário é haver sentido para seguir. Não veio a tempestade. Só o calor. Só a sede de ser um. Mas fui eu quem nunca gostou de normas e direções. Fui eu quem creditou ao espaço algum lugar. Mas é tudo tão enorme. E eu tão pequeno. Me sinto encolhendo. Cada dia mais. Não vejo sequer estrelas. Nem a maior. O cinza cobriu tudo. Encontrei uma praia. Uma onda enorme me levou até a areia. Brinquei um pouco de fugir do balançado do mar e vi duas pedras. Uma em cada ponta da pequenina faixa de areia. Um homem trabalhava em uma caverna iluminada por um lampião. Uma mãe e seu bebê degustavam a alegria quando outra grande onda se fez. Elas correram e eu me mantive parado, observando todo o cenário. O homem que trabalhava abaixou seus óculos de grau e me olhou. Sentou-se novamente a mesinha e voltou a escrever. O mar secou. Fez-se um vasto deserto. E eu ali, tal qual um beduíno que busca água e sonha se deparar com um oásis. Do contrário, seria apenas um grão de areia. Contudo a inolvidável verdade: de areia também se faz tempestade. E o que desejo é soprar alto para poder voar e encontrar a água que me dá forma. A água que me transforma em areia molhada.

Um comentário:

  1. Só nos resta a sede de sermos um.
    é o que nos resta. e é tudo, nos transformando em muitos. conectados.

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