sexta-feira, 15 de julho de 2011

a sós.



Insegura com o retorno de seu chefe ao escritório, Gisela tentava acalmar a si mesma desabafando com um colega de lá. Um em especial. Nove anos mais velho, atraente, casado, traços marcados (defina. Ouvi isso sobre ele e jamais entendi ao certo). Por alguma razão impensada, Lauro lhe inspirava confiança. O ar era confortável em sua presença. Bom, mas o importante é que Gisela abriu o jogo com ele. Disse que estava para sair da empresa, pois não havia mais como viver com aquele salário e que planejava outros saltos. Narrou sobre sua vida ao lado de um jovem apaixonado e seu estranhamento diante daquela situação. Disse e disse e disse. Pareceu muito para Lauro, que sempre a percebeu muito reservada. A priori o assunto era o chefe, mas a conversa ganhou ares de desabafo leve sobre a vida e suas expectativas diante dela. Alguém ( o sujeito indeterminado é ela) que precisava ouvir. Lauro seguia a escutá-la, porém voltava cada frase, bem pontuada, ao início daquele parágrafo longuíssimo. Tudo havia começado com o temor pelo regresso do chefe à rotina. Ela seguia a contar e contar e a contar(...)

(...)quando Lauro pensou em silêncio: entendo a densidade profunda de uma essência escorpiana e lunar. O escorpião desenha os contornos mais misteriosos de uma alma que percebe - (tudo) sempre - fora de uma sincronia exata com o tempo alheio. Seja aquilo que é ou que está. Ou aquilo que pode e que quer e que vê e que sente. Tudo é fora do tom. Para tanto exige-se demais do sujeito cujo o traço é o das linhas curvilíneas e de ângulos vários e imprecisos, mas que de tão marcantes acabam sendo revelados facilmente por quem detém o conhecimento. O grande power dessa força mitológica é associado ao inseto que mata e que cura com o seu próprio veneno composto de emoções tão densas que podem lama e que podem barro. Do barro a vida e da lama a morte. O escorpiano lunar sente a vida com a mesma intensidade limiar de quem toca o sobre humano. Isso é bravo e também cruel para quem sente assim. Esse paradoxo infinito é o que exprime com medíocres palavras essa força bruta que queima sobre água. É água com fogo ardendo em brasa sobre sua superfície. São quatro estações em um dia único. E é terra molhada (lhe ocorre sandy. que horror). Lauro vasculha sua mente que brota ideias conexas com o primeiro ponto abordado nessa história. Aquele assunto que primeiro veio à tona. Aquele que os transportou a tudo aquilo que ele via dentro de si. Gisela se afasta, através do próprio som de sua voz, que ao dizer e dizer e dizer (...)

(...) levava o rumo daquela prosa para cada vez mais longe de tudo aquilo, que antes, era apenas uma simples conversa no café daquele andar. As pessoas são malucas, ele concluía. Ela, insegura, pensou que tentar galgar melhor condição em poucos meses na instituição, seria tarefa fácil. Seu chefe, por sua vez, irritado pela maneira como julgou aquela situação, e, sobretudo por ter lhe dado uma vaga em meio a tanta dificuldade, resolveu retaliá-la. Passou a deliberadamente expor seu descontentamento a troco de ironias, não sabia Lauro o porquê, exatamente. Observar uma situação como essa, o fez refletir (mais uma vez) sobre a fragilidade maior de todo e qualquer indivíduo: o simples entendimento entre partes distintas acerca das próprias diferenças. Por que se passam tantas confusões desnecessárias¿ I don´t know, I don´t know (voz de Michael Jackson falando fino, ao ser questionado sobre cirurgias plásticas). Imediatamente as palavras de Michael o levaram a outra cena radicalmente diferente daquela. A noite em que Naomi e Dju quase destruíram seu apartamento no Brooklyn, NY. Conto outro dia, se for o caso.

Por isso que é foda, sabe¿ começo a escrever e surgem tantas coisas na cabeça que nasce uma preguiça imensa e vai dando uma vontade de terminar o texto, a história. Porém a ideia se desarma após o nascimento da preguiça. O silêncio não quer falar, não quer dizer e não quer contar. Ele quer só pensar. Mais nada. E ele gosta de pensar sozinho. Se entretêm ao rodopiar sozinho. Mas aí vem uma vontade de espalhar aquelas frases no ar, como os movimentos de uma dança, que exaltam a liberdade de flutuar pelo espaço das palavras - gêmeas do dizer. Logo tudo fica mais leve e vem a saudade de encontrar com quem ensaiar tão lindos passos. E é então que o leão balança a juba para chamar atenção. E é então que o vento sopra brisa fresca... Vento que sopra sem forma, mas que balança e suaviza o composto do veneno (do ferrão - e sempre dito por um mercúrio(em leão)).

- um bando de abobrinha chata.
- nem sempre. Nem é. Só tem que estar no mood.
- que mood¿
- nesse aí. Não é fácil de esbarrar com um mood assim. Mas rola. Quando rola é bom para caralho. Preciso disso outra vez. Um esbarrão do meu mood com um outro que esteja em sinergia. Na verdade, melhor, quero um mood melhor. Que me faça ver mais, perceber mais e desfrutar mais de prazeres assim. Nessa linha. Virada. Baby, por favor.

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