quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

tentando um emprego.




Diana, abriu uma vaga na CHerish World, a empresa suíça em que trabalhei. Eles precisam de alguém com o seu perfil. Escreva uma carta de apresentação, dizendo o porquê de você desejar trabalhar lá e ressalte suas experiências em pesquisas. Aponte suas qualidades para tudo que envolve o perfil ao cargo. Lembre-se de dizer o quão fluente você é no espanhol e no inglês e mostre conhecer a empresa. Vá ao site e dê uma pesquisada. Lá há muita informação contundente e alguns bons exemplos de projetos, bem sucedidos, atrelados a Cruz Vermelha. Não se esqueça que eles têm um marketing muito forte calcado em ações filantrópicas. Doam zilhões de remédios para inúmeros lugares carentes do mundo. Se quiser, me envie a carta que você vai fazer, para eu dar uma olhada antes, tá? Um beijo, Flávia. Ah, amanhã é o último dia para a inscrição dessa vaga.


Diana lê o email de Flávia e, por um acaso, está bem alcoolizada, após chegar de um jantar japonês, com uma amiga. Elas entornaram boas doses de saquê com morango. Diana não sabe o que fazer e, sentindo-se pressionada, resolve escrever a importante carta. Solicita a ajuda de Eva, que a ignora, como tem sido comum nas noites quentíssimas de verão. Seu corpo está mole, fatigado, e ela se sente assada dentro de seu pequeno e acolhedor apartamento. Liga o ventilador e sua mais água do que o volume que transborda em Niagara falls. Mauro dorme, sem o ar condicionado, e Diana derrete os neurônios, tentando encontrar o que escrever.


Prezados,

venho por meio desta apontar meu sincero desejo de trabalhar com vocês, para vocês, por vocês. Para tanto abro meu peito e vos digo o porquê: chamo-me Diana e tenho 30 anos. Sou casada com um empresário. A vida não tem sido fácil desde que fiquei desempregada. Houve momentos deslumbrantes e indescritíveis, tão logo livrei-me de meu último ofício, no entanto, uma vez que o dinheiro terminou, a situação deixou de ser graciosa. É sabido, em todo o globo, que a CHerish World visa levar acalento, de maneira objetiva e engajada, aos órfãos do capitalismo. Portanto disponho de todo meu sangue e saúde para fazer parte dessa causa. Meu currículo confirma minhas habilidades. Possuo experiências diversas no setor de pesquisas e foram elas de cunho cultural e institucional. Como produtora, enlouqueci com a imensa quantidade de coisas a serem feitas. Contudo, me assegurei como profissional competente, quando me vi absorta em centenas de problemas, que puderam ser resolvidos graças a minha sagacidade, rapidez de raciocínio, minha retórica, meu charme, minha diplomacia e meu carisma. Mais que isso, passei a ser a contadora mais precisa que julguei poder conhecer. Planilhas no excel, cáculos, balanceamento de custos, documentação de toda ordem? Resolvo tudo o que for necessário, sorrindo de orelha a orelha, sempre asseada e impecável. Através da experiência acadêmica, que tive no Instituto de Sociolgia da Universidade, adquiri importantes experiências em pesquisas de projetos concretos e experimentais. É válido ressaltar a vivência antropológica diária ao qual fui submetida, no logus de meu saber, por 5 longos anos. Sendo também uma ex burguesa, tudo que anseio é o trabalho na área de implantação de projetos de desenvolvimento político, que visem melhorias sociais de toda ordem. Após variados contatos com os mais diversos meios, afirmo que só há uma maneira de melhorar as sociedades: o combate a toda sorte de desigualdade social, que torne o cidadão indigno e humilhado. É preciso buscar meios de atenuar essa brutal diferença entre sociedades e suas classes, que por incrível que pareça, são compostas por seres humanos, tal como nós. Em minha infância cultuei ídolos do rock, cujo a admiração não feneceu, por serem alguns deles, hoje, grandes ícones da luta pelo direito aos bens maiores e da igualdade para todos. Meus delírios me dirigem à revolução francesa e reverberam em mim, os gritos, em uníssono, de IGUALDADE, FRATERNIDADE e LIBERDADE. É por isso tudo que eu luto e brigo por essa vaga. É importante lembrar que meu inglês é fluente, meu espanhol também e o francês quase digno. Sendo essas, as línguas faladas nas Américas, não ignorando os tantos outros idiomas indígenas, reafirmo ser eu quem vocês procuram. Recebendo essa chance, eu topo trabalhar por míseros R$1.600,00, afinal sou brasileira e resignada. Prometo honrar meus compromissos com todo o zelo e comprometimento. Mais que isso, serei a alegria de vocês. São infinitas minhas histórias. Sou criativa, dinâmica e sincera. Aguardo, serena, o sim. Afinal, sou uma mulher equilibrada e sã. Não poderia deixar de dizer, que se hoje, me encontro nesse estado de espírito, foi por ter sido uma beneficiada pelo projeto de vocês, concomitante à Cruz Vermelha, que possibilitou estabilizar minha alma com a doação dos mais eficazes tranquilizantes.

Cordialmente,

Diana.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

pai.





Eva, sou mesmo uma louca. Sentir demais dá nisso. Nos torna loucas. Mas quem não é assim? Até quem diz não ser, no fundo, apenas reprime as emoções. Todos sentem muito. E sentimos muito por tantos. Estou sempre, inexoravelmente, tentando me acertar comigo mesma. Seguramente, essa é chave para a expansão da consciência e enaltece a outra face da liberdade que não consegui voar (ainda). Você, mais que ninguém, sabe o que isso representa. Gente, devem jurar que sou lésbica e apaixonada por você, se lerem isso. Ui! Arrepiada. A opinião alheia importa? Devemos pular fora dessa ideia tão fora de magia. Bom, voltemos. Fato é que sou leve. Se estou eu sou, não é? Por isso fui direto ao SOU. Porque sou soul e esse trocadilho é sei lá. O que venho dizer é que conversei com o velho. Fiquei surpresa ao pensarem que éramos amantes. Fiquei incomodada e disse PAI algumas vezes, um tom acima do bom, para deixar claro para o mundo (eu mesma nesse caso. Sou o mundo.) que eu falava com meu PAI. Sou tão orgulhosa por isso. Por tê-lo, por sê-lo e por nosso acordo de contas sereno e imprevisto, mas que cabe perfeitamente no momento que é o sempre. Sempre feitos de amor. Refeitos de amor e de idade, que brotou aprendizado e rugas. Rugas são como rios e seus afluentes em nossa pele. Rios que correm mapeando o vivido, que cresce conforme o curso das águas (elemento emocional), mas a mim, hoje, lhe digo, é símbolo valioso e feliz. Quero ser um maracujá de gaveta! NOT! Ainda bem que a cosmética não para de progredir. Mas as rugas sempre surgirão. Penso em me prevenir do excesso de botox, de qualquer maneira, afinal, nessa viagem de alusões de rios às rugas, eu temo também a tromba d´água. Imagina aparecer com a cara da velhONNA? Seria muita falta de dignidade. Porém, devo dizer, que o diálogo entre mim e meu ancestral foi gratificante e me refez, do que pensava eu desfeito. Reconstruiu o concreto sentimento que não tem palavra, mas que resulta em paz. Agradeço ao... Não sei como chamar sem parecer uma carola profana. Bom, aos amigos, melhor assim, que têm santíssima paciência. Esqueci de dizer que até para o mais ferrenho ateu, seria possível ver meu falecido avô a mesa. Foi ele o elo e a alegria daquele encontro imerso em absolut lima da pérsia e melancia com gengibre inebriante. Tudo passará. Tudo. ABSOLUT {amente (em)} tudo. Seja lá o que for. Esse é o maior lema que podemos seguir. Por isso, quero aproveitar a maré boa e celebrar dois de fevereiro com você!! E, também hoje, oferto a deusa maior, de nossa latinidade nagô, minha alegria e meu obrigada! E a propósito: também não assisti a Vale Tudo ontem.

Beijos, Diana.