quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sê.





Sê de Caio e de Clarice; e de andar se faz o caminho. Não há trunfo, nem segredo. De andar se faz o caminho. Da janela o verde e no branco a mente. No escuro o negro que mergulhei, no salto que dei de mim pela madrugada. Dormência ardente que me levou a dar passos lunares, sem gravidade. Até à cozinha eu me pus e a luz não se acendeu. Minhas mãos transpassaram o interruptor e não era eu em um disco voador. Aqui na crosta agradeci, com um beijo, o alento que me sobrepujou a leitura. Aquelas palavras- de ornar o mais profundo- misturadas, revelaram a força d´alma que se destina a dar gosto a toda sede de frescos e doces morangos. Eu brilhei como a luz da lua nova, que baixava na imensidão, me dizendo ao coração que a virada viria na aurora. Tempo corre infinito. Tempo corre sem saber. Ele é meu fluxo. Meu trânsito fluido. Meu corpo esconde inutilmente o que a alma fala. Alma conta tudo. Alma sofre tudo. Ela ama. E destesta. Ela livre e rodeando: O tempo. Penar imundo. Eu penei na madrugada e se fez ouvir um mugido de sofreguidão que salvou meu respirar. Ele seguiu agraciado pelo ar da noite azul. duas horas passadas e parecia um minuto. Tudo se parece. E é sempre assim. E ela falou e falou e não disse nada. E é sempre assim. Com sua bocarra ela cospe o musgo da sua dupla face sórdida e dissimulada. Almejando ser desejada e amada e recorrendo aos seus seios e cabelos. Aos seus olhos transparentes. Porém, ah/há, porém! Quando fitados são desmascarados. Medusa pobre. Ou pobre medusa? A imundice pode ser notada quando ela tenta se esconder evitando ser encarada. E o que isto importa? Nada. Absolutamente nada. De vida e alegria ou de miséria e podridão o que se vive é o que se sente e do andar se faz a estrada. E nesta estrada esbarrei com outra. Outra alma. Desligada de seu corpo violentado por si, ela revelou, em saltos soltos, a doçura e o sorriso que a alma não oculta. Por este Sê que não se esconde e que se desgarra. E que se vive porque Sê é ou Sê somos, é do andar que se faz o caminho.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Dias sem formas, presos na linearidade de 8 horas entre teclas e bocas que normatizam. As formas de meus dias andam atreladas a um entrelaçar goldlocks, branco-negro. Sempre com o cheiro doce no ar, a respiração profunda – aquela que só se tem quando se é – e o azul do pulsar de minhas veias, fazendo minha pele manifestar a bomba que é meu coração.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

lá da lua.





encerrei este assunto de fábulas, de feiticeiras e ermitões. Encerrei porque cansei. Cansei de lero-lero. Nos cansamos. Eu e a Rita. Se de mística se alimentam almas, na realidade o trovão tira a luz do meu Humaitá. E por estas e por outras eu encerrei. A onda passou e eu voltei depois do tempo que me ocorreu. Mas palavras por palvaras eu fico com o verbo. Calei meu berro. Meu riso é meu regozijo. E isto é preciso cultivar. Na iluminada e chuvosa cidade eu encontro meu ninho. Minhas ilhas de alegria que me trazem a esfuziante sensação de que só para a culpa não há perdão. Eu jogo fora da memória a ideia arraigada da tradição. Crio meu tumulto e me alimento da confusão. Eu ligo o tal foda-se e me ilumino de pensamentos. Solto os meus instintos. Sigo seguindo sem saber do fim. O que importa se é mesmo assim? De um jeito ou de outro o que vale é o sentir sorrindo. Na calma da marola meu corpo se fortalece. E é portanto que me projeto para a lua. E de lá eu vejo tudo. Mas isto é força de expressão. Na verdade não há mesmo como ver o tudo. O espaço é mesmo sideral. É escuro demais. E é, portanto, que eu olho mesmo para onde eu posso ver. E é tão bom. Tão bonito e azul e verde e branco e Terra.

a feiticeira.





ele andava perambulando, procurando os fragmentos de si, que outrora, na construção de seu tempo, haviam se perdido. Em cada pedaço seu, uma representação. Uma alusão às suas dores e desencontros. Contudo, existia um desejo tácito e pulsante de seguir ao encontro Dela, sem sequer saber de quem se tratava. Sabia, apenas, que se tratava Dela. Daquela força de múltiplas facetas, vozes e expressões. De distintas, porém contáveis personalidades. Da força que encarnava a poderosa mandigueira sábia e rameira e ao malandro safo e sagaz, malemolente e audaz. Personificava também a velha curandeira, paciente e complacente, além da nativa da floresta, que era austera, feiticeira e dócil. Incorporava também a persona de duas menininhas, mas em suas essências ele intuia serem elas, uma única criança. Ela era, também, o grande guerreiro que vencia toda e qualquer demanda. O altivo cavaleiro dos coléricos sentimentos que o tornaram Rei. O tenaz e impetuoso domador de dragões. E finalmente encarnava a Ela. A grande Mãe! A jovem fértil, de incomparável beleza e de encantos que transbordam, como as águas que escorrem, sobre as pedras de seu maior amor. Ela seduzia e acalentava. Ela ensinava ao aprender. Ela que compartilhava seus segredos porque almejava permanecer. Ela que amamentava, gerava e que sempre venceu o inimigo com todo seu ardil. Ela oscilava entre a tormenta e a calmaria. A deusa que embalou sua vida no ritmo de sua magia, de sua força e de seu delírio sincero. Fertilizar era seu verbo e da beleza ela bebia. Ela sabia que a trasnformação era o seu guia. Ela lhe ensinou que a vida merecia e demandava ser celebrada. Era Ela quem encantava qualquer um e que desfazia qualquer agrura. Todas estas forças clamavam a sua chegada. E eis O encontro. Seus pedaços eram conclamados por Ela, que os recebeu e os observou. Cada persona se encarregou de trazer notícias de cada peça. Algumas logo foram identificadas. Outras permaneceram misteriosas por mais tempo. Mas Ela cavou suas implicações. Ela revelou a ele a mais profunda verdade e esta estava dentro de cada um de seus fragmentos, já colados ao longo do Tempo. Todos reunidos através Dela. E então ele recebeu sua dádiva- a libertação. Assim sendo, Ela se afastou e retornou lentamente ao seu reino. Entretanto, deixou ao seu encargo a missão de observar outros fragmentos a fim de que pudessem ser juntados, assim como Ela o instruiu. Deste modo, feiticeira e aprendiz, mãe e filho, longe ou perto, seguiriam conectados. Ela deixou alguns fragmentos sem resposta. Mas não se importou. Seguiu seu rumo com a certeza de que fizera seu papel. A busca é a lição. E esta não tem fim. E ele entrou pela mata adentro como um caçador à beira de seu caminho e partiu para desbravar seu reino. Okê! Ele nos saudou.

nenhum S.O.C.




Eu conversava com a minha irmã sobre a importância da gente se curtir e coisas afins.E assim, ao desenvolver o assunto, me dei conta de que eu ela tínhamos S.O.C. É sabido que 90% da população é afetada por esta síndrome, mas há técnicas simples e absolutamente viáveis de burlar o efeito colateral deste mal universal. Eu, por exemplo, me observando no espelho, percebi que arregalando meus dois olhos por um ou dois segundos, antes da foto ser sacada, poderia atenuar suficientemente o sintoma primordial. Francamente, eu acabei desenvolvendo um T.O.C. Todos percebem que eu dou aquela pirada antes de qualquer câmera ser clicada. Mas o que eu posso fazer? Não posso ser levado à eternidade com aquela evidência de S.O.C. Imagina uma foto minha servindo para ilustrar teses acerca do mal que não fenece... Ou não. Porque vai que Darwin volta à vanguarda e descobrem que meus genes, nossos genes(90% da população) se refinaram através da prática de abrir bem os olhos antes de qualquer foto ser feita? Vai que o S.O.C é erradicado? Vai que o S.O.C vira uma coisa de neandertais? Jamais poderia servir à uma geração digna de pena. E é pensando em tudo isso que sigo no T.O.C... E o S.O.C? Ja-mais! A-PA-VO-RA-DA.