terça-feira, 3 de agosto de 2010

a feiticeira.





ele andava perambulando, procurando os fragmentos de si, que outrora, na construção de seu tempo, haviam se perdido. Em cada pedaço seu, uma representação. Uma alusão às suas dores e desencontros. Contudo, existia um desejo tácito e pulsante de seguir ao encontro Dela, sem sequer saber de quem se tratava. Sabia, apenas, que se tratava Dela. Daquela força de múltiplas facetas, vozes e expressões. De distintas, porém contáveis personalidades. Da força que encarnava a poderosa mandigueira sábia e rameira e ao malandro safo e sagaz, malemolente e audaz. Personificava também a velha curandeira, paciente e complacente, além da nativa da floresta, que era austera, feiticeira e dócil. Incorporava também a persona de duas menininhas, mas em suas essências ele intuia serem elas, uma única criança. Ela era, também, o grande guerreiro que vencia toda e qualquer demanda. O altivo cavaleiro dos coléricos sentimentos que o tornaram Rei. O tenaz e impetuoso domador de dragões. E finalmente encarnava a Ela. A grande Mãe! A jovem fértil, de incomparável beleza e de encantos que transbordam, como as águas que escorrem, sobre as pedras de seu maior amor. Ela seduzia e acalentava. Ela ensinava ao aprender. Ela que compartilhava seus segredos porque almejava permanecer. Ela que amamentava, gerava e que sempre venceu o inimigo com todo seu ardil. Ela oscilava entre a tormenta e a calmaria. A deusa que embalou sua vida no ritmo de sua magia, de sua força e de seu delírio sincero. Fertilizar era seu verbo e da beleza ela bebia. Ela sabia que a trasnformação era o seu guia. Ela lhe ensinou que a vida merecia e demandava ser celebrada. Era Ela quem encantava qualquer um e que desfazia qualquer agrura. Todas estas forças clamavam a sua chegada. E eis O encontro. Seus pedaços eram conclamados por Ela, que os recebeu e os observou. Cada persona se encarregou de trazer notícias de cada peça. Algumas logo foram identificadas. Outras permaneceram misteriosas por mais tempo. Mas Ela cavou suas implicações. Ela revelou a ele a mais profunda verdade e esta estava dentro de cada um de seus fragmentos, já colados ao longo do Tempo. Todos reunidos através Dela. E então ele recebeu sua dádiva- a libertação. Assim sendo, Ela se afastou e retornou lentamente ao seu reino. Entretanto, deixou ao seu encargo a missão de observar outros fragmentos a fim de que pudessem ser juntados, assim como Ela o instruiu. Deste modo, feiticeira e aprendiz, mãe e filho, longe ou perto, seguiriam conectados. Ela deixou alguns fragmentos sem resposta. Mas não se importou. Seguiu seu rumo com a certeza de que fizera seu papel. A busca é a lição. E esta não tem fim. E ele entrou pela mata adentro como um caçador à beira de seu caminho e partiu para desbravar seu reino. Okê! Ele nos saudou.

2 comentários:

  1. Para mim, o verdadeiro sentido da arte é ser o canal pelo qual conseguimos transmitir algo que vive em nós e nos é valioso. E se através disso conseguimos tocar e emocionar alguém, ela conseguiu ir além do que foi previsto.

    Você conseguiu isso no seu texto acima, parabéns artista!!

    Amo!

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