quinta-feira, 5 de maio de 2011

o velho, o moço e a portentosa.



amada e tão, tão distante Portentosa,

chorei tanto ao ler seu mais recente pergaminho de notícias... Como é tamanha minha infinita saudade! Ler suas palavras me fez escutar sua voz outra vez. Viajei no tempo feliz, que não sabia sê-lo assim, por estar (quase sempre) engasgado em minhas angústias pueris. Muito se passou comigo também, desde que voltei ao Condado e desde a última vez que vi você na praia dos Dois Montes. Talvez ainda habite, em sua lembrança, alguns detalhes desimportantes de minha biografia, daquele início de verão, no final do ano VII, quando perdemos o contato. No entanto, posso discorrer brevemente sobre a Era Balzaquiana, com o simples intuito de me exibir, outra vez, como costumava fazer em minhas apresentações performáticas no fundo da Biblioteca Secreta - só para você. O retorno ao vilarejo foi conturbado e aflitivo. Vi-me mais uma vez correndo atrás do rabo, como um cão vadio. Em meio a encontros e desencontros, lembrei-me de suas sábias palavras, extraídas de um instante profundamente reflexivo (da fase - superada - em que você se jogava contra toda e qualquer pilastra que estivesse no caminho. Era sempre igual. Você se recostava nelas e se punha a chorar, sofrida, até chegar ao chão): "D., querido, se eu pudesse voltar no tempo, teria feito muito mais vezes, duas coisas: teria transado mais e viajado mais". Mergulhado em incertezas me pus atrás desses objetivos. Sem muito (ou nenhum, de acordo com o ponto de vista) êxito. Deveras sem jeito e ainda muito sonhador, não seria fácil conciliar as duas metas. Entre idas e vindas, um dia, sem esperar, deparei-me com um príncipe (de verdade), que conheci através de duas amazonas, com quem saí em expedição pelas terras neutras do território Ianque. Seu nome é tão nobre quanto sua estirpe e bastaram quinze dias, apenas, para que a mordaz paixão atingisse seu ápice. Não obstante, a concretização (tardia) do ato amoroso trouxe a tona um segredo que, quando desfeito, voou longe e provocou descabida ventania ao meu redor. Levei imenso susto com a vibração que emancipou o meu espírito e desafiou meus prejuízos e ideias errantes. Como resultado de tal vivência, senti meu coração refeito pelas notas afinadas de sua branda voz. Assim foi feito o elo. Assim tornamo-nos cúmplices do segredo desse único amor. Os meses passaram e a Realidade voltou às rondas rotineiras, sempre trotando lenta. Descobri no tal segredo uma bobagem e me foi revelado ainda maior mistério. Esse novo maior mistério chegou tão manso que nem o percebi. Era tão íntimo que eu não o distinguia do dia a dia que contam, hoje, três anos já passados, desde o primeiro beijo. Nossa aliança foi batizada em terreno ioruba, em um dia de Glória, da força mãe Iemanjá. Com esse tempo corrido e passado, me percebo, por vezes, mareado pelo aroma da lembrança, que traz a vontade de começar tudo outra vez. O Maior Mistério me contou que o caminho não deve estreitar como emoção endurecida com sabor de pão dormido. Portanto é assim que sigo abrindo trilhos, rumo a destinos incertos, porém certeiros, pois que me levarão sempre a algum lugar. Sinto-me anacoreta na estrada, ainda profano, ainda páreo, já mais velho e mais bonito. Tramei fios de um novelo macio que se emaranharam junto ao corpo que me ensina a amar. Desejo (o moço), sinceramente, VIDA LONGA AO REI (o velho).

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