segunda-feira, 2 de maio de 2011

um tanto miserável.



em uma remota manhã da semana passada, Diana sentia-se miserável e arruinada por um súbito dano físico, que a medíocre medicina dos planos de saúde, naturalmente, classificaria de virose. A pior das respostas para aquilo que não se explica por esse flagelos denominados médicos. Fraca e abatida, ela insistia em se recuperar visando o êxito profissional em sua promissora nova carreira. Exasperada pela superação do mal sem nome, ligou para uma amiga anestesista que prontamente lhe recomendou antibióticos, sem sequer ter segurança a respeito de seu diagnóstico. Recentemente foi determinado pelo governo, que esse tipo de medicação seja vendido, apenas, com receita médica ( já era tempo) e sendo assim, ela não se negou a buscar as receitas para comprá-los, com o intuito de tê-los em estoque. No entanto não sentia a real necessidade de consumi-los (é uma mulher prudente) e tentou se curar por vias menos agressivas. Usou o C-VENCE (Cewin) e outros remédios do gênero, desses compráveis no balcão de qualquer farmácia. Porém, de nada adiantou. Duas semanas se passaram e a pobre mortal afundava ainda mais em sua condição de reles enferma e de quem faz todo dia tudo sempre igual. Dentro de um trépido transporte público, insistindo ainda em viver, ela encontrou sua amiga farmacêutica, através do aparelho móvel, e travou um breve diálogo sobre o assunto.

cara Cabis, é normal um indivíduo ficar gripado durante uma semana ou mais?
Cabis: gente, super! Gripe demora!
Diana: jura? Ufa... Pensei que estava em algum estágio terminal. Nossa, estou muito abalada pela gripe. É verdade que é melhor não ir a gym nesse estado? Não estou conseguindo não ir. Estou gostosa demais para colocar tudo a perder. Gente, essa gripe é pior que um caminhão passando sobre mim. Que horror. Estava crente que a chuva de ontem abalaria as estruturas do transporte público e que teria, portanto, que manter-me em casa, em função de uma possível degradação do ambiente urbano pela natureza, e que dormiria formosa... Mas de na-da adiantou tanta tempestade. Sequer trânsito houve na Voluntários. Fui mesmo bem vinda ao mundo dos trabalhadores miseráveis.

Poucos minutos depois, já a mesa do escritório, Diana se debatia para não babar sobre os teclados do computador. Apenas lhe ocorria uma letra. Uma canção: "I was looking for a job and than I found a job and heaven knows I´m miserable now in my life(...)". Logo, Diana retoma às mãos, o aparelho e desabafa com a amiga:

Cabis, que humilhação tamanha... Você já se sentiu uma cachorra magra a tossir por mais de uma semana? Sinto-me uma cadela delgada e de tetas murchas. Uma cachorra desamparada, sem rumo e que só pensa em dormir e que sente alguma fome... Porém, ao ver a comida, desiste dela por não encontrar forças para ingeri-la. Sou dor no corpo. Sou sono. Sou tosse. Sou irritação na garganta. Sou corisa. Sou espirro que alastra perdigotos. Sou pressão tortuosa em minha testa, entre os olhos. Pressão tão incômoda que atrapalha o enxergar. Sou miserable. Sou um ser que precisa ler quilos e mais quilos de palavras e que quase baba sobre elas. Sou um ser que (sim!) baba sobre elas, que triplicam de peso, através da impressora que não para de cuspi-las para mim. Sou um ser. Sou uma cadela magra e vadia a vagar pela Cinelândia. Sou a ausência do remédio. Sou a necessidade dele. Sou miserable. Sou fluido expelido cor clorofilada. Sou socorro, ou melhor, a necessidade dele. Gripe pode matar. Alguém me explica?

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