quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


Caríssima Dueña,

pensei em escrever. Não sabia para quê tampouco para quem. Pensei em você. Pensei em muito do que nos une. Pensei sobretudo na nossa gana por perder os kilos que nos impedem de voar mais alto. Afinal o corpo pesa. Contudo o corpo pesa o que a alma sente? O corpo pesa o que a mente não mente? O corpo pesa. Minha alma também. A nostalgia me aponta que a angústia é minha. Faz parte de mim. Habita em nós. Em alguns de nós. Há muitas angústias por aí. Mas há as nossas e há a nossa. Há a minha. Há a sua. Há a de todos nós. A nostalgia toma de assombro meu espírito ansioso pelo que vem. Mas só encontro em mim memórias. Estas, no momento, são remotas e singelas. Pueiris e sonhadoras. Lembro do deslumbre que sentia quando via a fantasia revertida em produto da mais bela poesia. Lembro das cadeiras, do frio suave e agradável. Da companhia de minha mãe tão acalentadora. Lembro da alegria catártica de viver o que não se vive fora da caixa de Pandora. Cenas e mais cenas me tocam o coração, dentre muitas, sem razão, encontro um carro que cruza o tempo em Back to the Future! A genialidade monstruosa que tornou pálpavel por infindas vezes viver o que ainda não nos é permitido. Sonhar tem preço. Mas não custa caro. Eu ando atravessando o tempo. Busco o sentido do meu hoje. Encontro nas minhas recordações a resposta. Vivo o sonho e acordo para a realidade. Tento dar conotação onírica à verdade cotidiana mas a saudade é meu fado. Meu fado é minha terra. Minha terra meu degredo. Meu peso é minha vida. O peso é um excesso. A leveza uma sabedoria. O equilíbrio uma utopia?

Aguardo sua reflexão.

Inho.

Um comentário:

  1. A consciência pesa, o corpo pesa. As correntes se arrastam, moles, barulhentas... assim como as gorduras.

    O ar está cremoso, nesse calor que a chuva não abala.

    Espessuras densas em nossas vidas.

    E não vejo no passado um acalanto... Das memórias minhas, a única fase de plenitude e felicidade intensa estão ligadas ao que acabo de perder. Plano de vida compartilhada intensamente... sabe aquele momento em que passamos a enxergar o mundo com outros olhos voluntariamente porque realmente acreditamos em algo? Como me esforcei, em nome do amor, para deixar de ser uma e tornar-me dois.

    Mas, a vida não se faz de planos... ela nos leva ao seu gosto... nem sempre doce...

    E o mais louco disso tudo é que vejo os males da vida, entendo que ela nos dá porradas, mas sei que estou melhor do que antes... realmente não tenho mais o sonho sonhado que parecia tão realizado nas mãos, estou passando pela porrada de entender tudo isso agora e de ter que me virar, fazer milagre, ser humilde, pedir, chorar. Mas, não posso negar que, de uma forma geral, venho melhorando gradativamente na minha vida.

    Louca que sou, vesti-me de Poliana.

    Deixo pra trás a ansiedade das dúvidas para abraçar a serenidade da fé.

    Sei que o equilíbrio é uma utopia, jamais teremos a medida certa das coisas, sentimentos, prazeres e dores na vida. Mas isso não faz da vida um martírio e, sim, um labor.

    Labor de carregar os pesos, de administrar o que carregamos, de trabalhar os músculos do corpo, da mente, da alma para que estejamos prontos a suportar os fardos e, ainda que com a lata na cabeça, saber rebolar, olhar para o que está em volta e sorrir.

    Não viemos à vida a passeio, especialmente nós... temos uma jornada pesada, mas que pode guardar seus prazeres...

    Há uns anos percebi que a vida não é poesia, mas há poesia na vida. É preciso ter olhos de ver, e sensibilidade de sentir para compreender isso e agarrar toda a poesia que passa.

    Quero degustar de cada uma delas, quero estar preparada para, apesar dos pesos carregados, ter energia de gozá-las intensamente.

    Acho que entendi plenamente a frase que sempre digo: viver é difícil.
    É isso...
    Não haverá mar de rosas eterno... o que há são fases e provas.
    E digo isso sem pessimismo, mas com entendimento, o que torna essa conclusão aparentemente tão negativa, num otimismo profundo.


    Agora, exatamente nesses minutos que escrevo este e-mail, estou tomada pelo pensamento claro sobre a vida, não pela poesia. Desculpe-me a falta dela nas minhas palavras.

    Adorei o e-mail. Adorei a idéia dessa troca. Continuemos e te prometo muito mais poesia. Certamente ela não será sempe polianada como essa mensagem, haverá muita angústia nela, haverá sarcasmos e ironias, mas ainda assim será poesia.

    Nisso eu volto ao que dizia. A vida não é pura poesia, mas há poesia na vida. E a poesia não mora na alegria e no prazer exclusivamente... há poesia na dor também, ou especialmente na dor...

    Apliequemos, pois, nosso olhar esteta sobre o mundo e façamos arte!

    Áminho!

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