quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

mulata portentosa.




Bianca é uma mulata portentosa do subúrbio carioca, mais precisamente do Engenho de Dentro. Graduada em duas universidades, recentemente tornou-se mestre em Nietzsche (tese intitulada: `O Evangelho ressuscitou na Portela`), pelo Instituto de Filosofia e Ciências Socias da UFRJ. Sua vida acadêmica segue paralela a boêmia que lhe sorve de histórias que vão muito além das fontes analisadas, estudadas e descritas. Bianca apaixonou-se, faz uns anos, por um figurão do instituto, que insistia em declamar frases em latim, durante o ato sexual. Frustrada em demasia, Bianca buscou, incessantemente, compreender o fenômeno que ganhava corpo durante as noites em que passavam juntos. Um dia, em uma manhã, antes que a aula tivesse início, a confusa mulata decidiu se abrir com o amigo Bruno. Depois de toda a sua narrativa escutou do rapaz: explore todo o potencial exótico de nossa mestiçagem brasiliana. Venda-se a um galalau holandês, que tenha bons dentes, corpo viril e mente sã. Não dê espaço ao esquizóide que declama frases em latim enquanto fode. Que maneira mais desagradável de fazer sexo. O latim não deve ter voz, uma vez que é língua morta. Esqueça esse imbecil, de corpo flácido. Nada é ele, além de um biltre. Alguns poucos anos se passaram depois dessa conversa e eles viram-se poucas vezes. Bianca entrou em profunda depressão. Refazia-se, quando encontrou com Diana em uma livraria no centro da cidade. Ficaram amigas na faculdade de Sociologia. Não se viam fazia um tempo e logo sentaram-se no café para atualizarem as novidades. Diana sempre esteve a par da depressão de Bianca. Desde a altura da graduação. Diana: bom te rever viva. Pensei que você pudesse estar morta por causa dessa sua obsessão por aquele que diz cretinices em latim durante o ato de fornicação. Acho tão incoerente o seu penar. Você é tão genial. A única passista da Portela com predileções intelectuais pré-Socráticas. Jamais entenderei. Bianca: obrigada por pensar que sou interessante. Ontem assistia a maior puta de todos os tempos discorrendo sobre os gays. Lembrei do Bruno. Luciana foi mesmo genial. Calculou a ovulação com precisão e deu o grande golpe: engravidou de Mick. E eu aqui sofrendo por aquela barriga flácida que perambula por minh´alma. Como boa mundana eu sou generosa. Ao contrário das moças de família, quase sempre conservadoras e egoístas. Eu fui trocada por uma garota de 21 anos. Estou morrendo de inveja. Ela tem o homem que eu amo. Ela deve estar escutando latim todos os dias. Tudo bem. Hei de vingar-me. Desfilarei, faceira, cortejada por um negro gêge e pirocudo e, que ninguém além de você saberá, jamais me fará feliz como ele me fez. Me fodeu como um deus. Apesar de só agüentar (saudade do trema) uma vez. Tem um menino lindo na minha rua. Loiro, olhos azuis, 23 anos. Ando sem coragem. É tão novinho. Ele me quer. Mas eu não. Ando careta. Aliás, o mundo me parece cada vez mais careta, chato e homofóbico. Agora que o BOPE, faz parecer, controlar tudo, eu queria uma UPP medicinal. Um BOPE para me controlar. Daqui a pouco haverá uma fogueira santa de Israel no pátio do IFCS. Cada vez mais eu compreendo o quão verdadeira é afirmação: diamonds are girls best friends. Com eles, seria eu loureada. Cansei. Quero ser a cabrocha de um gringo e viver exaltando minha afrobrasilidade em alguma cidade mais civilizada. O que meu mentor, de berço luterano, pensaria de mim? Por que essa lacuna tão grande entre minha vida e a de Friedrich? Diana folheia uma revista qualquer e degusta seu café, sem açúcar em uma dança sem par. Você podia, ao menos, me contar uma história romântica, ela diz. Eu não entendo essa patologia, Bianca. Vou denegrir minha vertente nietzschiana e ligar para a mãe de santo. A ancestralidade deve ter respostas míticas para o meu mal sem palavras. Diana: a conta, por favor!

2 comentários:

  1. Todos os graus de brasilidade, nessa mistura que hora funciona, hora não.

    ResponderExcluir
  2. Adorei, meu amor! Você está terrível!!! Fazia tempo que não passeava por aqui. Te amo.

    ResponderExcluir