terça-feira, 28 de dezembro de 2010

carta.




Cara Evandra,

senti tanto a sua falta hoje. Quis começar esse email de maneira formal, para sentir-me como em nossa juventude, quando ainda escrevíamos cartas. Tão remotos parecem esses tempos, não? Porém, a delícia da modernidade é poder escrever e logo, em tão poucos minutos, receber uma resposta. O problema é constatar quando somos ignoradas. Quando somos humilhadas e recebemos desculpas torpes acerca do esquecimento do celular em qualquer lugar, ou coisa e tal. Sabemos, pois, ser uma desculpa mesquinha, uma vez que hoje, em qualquer lugar, a qualquer hora, podemos contar com ele: o celular. Mas aí também há a desculpa da bateria que descarregou. Deixa para lá. Queria te contar que ontem comprei uma lingerie lindíssima, de uma italiana, amiga minha. Ela é finérrima. Ela entende. Comprei uma liga e vesti, sobre ela, um vestido clássico, careta. Fui para a terapia assim, sentindo-me uma putinha de 16 anos no cio, mas com a classe que demanda os meus 32 anos. Com a altivez que sempre galguei alcançar, desci a rua para buscar um táxi, terminada a sessão. Cheguei a casa e fui para o quarto. Maurício chegou e disse que eu estava linda. Beijou-me e foi escovar os dentes. Eu tirei a roupa e fiquei de liga, esperando no quarto, abrindo e fechando a gaveta, bem louca, buscando agir naturalmente. Viajando pin up, sabe? Para Maurício seria natural presenciar aquela cena. Já é muito acostumado com minhas idiossincrasias. Passei a sentir uma tendinite no braço, de tanto abrir e fechar a gaveta, e nada dele voltar. Deitei na cama e comecei a olhar embaixo dela, com a bunda empinada, me sentido tão sexy quanto uma atriz de Porky´s(presa nos 80)... E nada dele voltar. Chego ao banheiro e escuto o barulho daquele lança cheirinho, sabe? Aqueles trecos para explanar que o urubu bicou e logo penso: Brasil!(mostra a tua cara). É, meu bem. Coisas de uma mulher casada, na qualidade de desempregada, e degradada em seu próprio lar. Tem sido duro. Muito duro. Hoje, fui ao encontro de algumas amigas em Ipanema. Todas em recesso pelo final do ano. Procurei pensar que o que vivo é um recesso prolongado. Mas quer saber de uma coisa? Eu quero é ser rica. Cansei dessa busca de uma vida classe média. Cansei de sonhar com um trabalho que me faça trabalhar 5 vezes por semana e ganhar uma merrequinha que me faça sentir gente ,outra vez, durante um mês... Eu quero ser a patroa. Eu quero ser Odete( Roitman). Não pérfida e violenta como ela. Apenas a dona. Bem sucedida. E eu vou conseguir. Mas enquanto isso, eu sigo revelando os mistérios de minha força lunar e escorpiana, de modo que o triunfo se concretize. Apesar da ânsia eu sei esperar. Sempre ando rápido, na frente de qualquer um que me acompanhe, mas eu atraso o passo para esperar. Sou impaciente, pero no mucho. Há o que valha a espera.

Cerca de 30 minutos depois, Diana recebe um email de Eva e nele os seguintes dizeres: Gente, eu não estou entendendo mais nada. Você está possuída.

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