quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

bobagens.




Diana levantou-se tarde, como tem sido comum, em sua vida de dona de casa. Foi à cozinha verificar o almoço, e coordenar os empregados. Percebeu que tudo estava em ordem e aguardou seu marido para almoçarem juntos. Esse momento é, para ela, muito importante. Depois do retorno de Maurício ao escritório, ela foi ao mercado, a floricultura e a academia. A vida parecia impecável. O fim da tarde se aproximava e ao voltar ao lar, ela abriu as revistas que haviam chegado pela manhã. No entanto, Diana andava enfadada de suas assinaturas e pediu ao jornaleiro que lhe entregasse um exemplar da Vogue RG. Faltam apenas duas semanas para o final do ano e era preciso entregar-se a pequenas e cabíveis futilidades. Voltou à copa e preparou um chá. Enquanto a água era esquentada ela se recordou de sua conversa, durante mais uma madrugada, com a amiga Eva. Ela dizia: eu estou de saco cheio sabe do que, exatamente? Das pessoas. Depois de um certo tempo de convivência, alguns anos e tal, no geral, com honrosas exceções, são "aquilo mesmo", sabe? Elas não mudam muito. Geralmente não mudam nada. Elas são chatas... Diana refletia sobre aquelas palavras enquanto preparava o chá em efusão. Servia-se de boa dose de chá de hortelã e ia ao escritório ligar seu computador. Olhava o céu cinza, pela janela, e pensava sobre o que iria jantar. Diana havia escrito três “crônicas para ninguém ler “(nome do seu blog), no dia anterior e sentiu-se exausta. Pensou: se com três textos eu fico assim, imagine qual era o estado do Chico Xavier depois daquela usina psicográfica dele? Diana rolou o seu playlist e escolheu uma música para escutar. Antes de decidir-se, pensou na quantidade de música ruim que havia ali. Não entendia o porquê de um dia ter baixado certas faixas. Optou por Royksopp, mesma som que tinha escutado na esteira. Levantou-se e foi ao quarto buscar suas revistas. Tão logo abriu a RG, pensou calada, (era dada a falar sozinha) que se faz necessário certa dose de inutilidade, vez ou outra. Leu sobre o oásis ameaçado dos milionários do Jardim Pernambuco. O oásis invadido por outros milionários sem castas. E o que isso importa se são todos milionários? Se todo aquela universo retratado é, para Diana, um artigo antropológico? E não menos ignorado pela Piauí, por exemplo, que com a devida classe e sarcasmo, adora fazer troça dessa nossa espécie de ricos, tido indevidos, pelos mais tradicionais. Adoram expor toda aquela animosidade de maneira eficiente. Ah, que delícia! Que gostoso saber que Mariana Ximenes é Cult e cheia de opinião acerca dos malefícios da fama zzzzz... E que ela se sente contrariada ao ser questionada sobre sua solteirice. zzzzz... Afinal, só as atrizes padecem desses tormentos. Os homens, ela crê, não passam por nada semelhante zzzzz... E por aí segue o raciocínio de Diana, pávido pelo futuro e parvo pelos segundos entregues as novidades colunáveis da RG. Sentia falta de novidades. Fechou a revista e foi ao banheiro se olhar no espelho. Reparou sua franja e logo lhe veio o Rod Stewart à cabeça. Que merda! Diana pensou. Lavou as mãos, sem propósito, e foi a mesa buscar seu cigarro. Voltou ao quarto com ele aceso e finalmente abriu a TRIP deparando-se com o astro porn, Alexandre Frota, muso de sua infância oitentista. Não muso de Diana. Mas de muitos. Aliás, uma amiga já teve a vagina chupada por ele e narrou detalhes inquietantes... Diana, porém, era muito criança naquela década. Leu, leu e leu. Era Cazuza! Bravo Cazuza! Paixão que Diana negou na adolescência mas não resistiu e assumiu, passados seus 20 anos. Leu o ranking do melhor da cultura na primeira década de 2000. Leu e continuou lendo até o chegar da alta noite pós novela das 21h. Escutou o alarme do carro de seu marido e foi a sala para aguardá-lo. Ganhou lindas e inúmeras flores. Conversaram um pouco e Diana voltou ao seu blog, crônicas para ninguém ler, espaço em que dava voz ao seu pensar. Definia-se uma kantiana e, portanto uma desiludida. Mas nem tanto. Havia recebido lindas e inúmeras flores. Mais uma vez recordou-se da última conversa que teve com Eva: mas eu sei que relacionamento é mesmo uma arte, que para mim, exige suooor. Diana: vem dar aula no Rio pr´eu fazer com você o mestrado? Vou ser sua aluna mais vagabunda. Vou lançar “chamou, chamou?” na classe, meu bem! Então Eva lhe disse: por ÉTICA, eu jamais toparia te orientar, justamente por isso! Você não faria NADA. Eu te conheço. Também por ética, jamais orientarei quem tem ascendente em libra. Escolherei meus orientandos pelo mapa. Esse ascendente patétio... Diana: como fui injusta com escorpião. O melhor de mim. Todos os problemas do meu mapa, que é uma merda, diga-se de passagem, provêem desse ascendente maldito. Esse signo pior que virgem. Eva, categórica diz a amiga: libra é foda mesmo. Sempre mundinho da lua. O que virgem tem de porre por ser pé no chão demais, libra tem de porre por ser aerado demais. Diana diz: tudo clichê. Meu mapa é resultado da inconseqüência dos meus pais. Sorte minha ter sol domiciliado. Sol em leão é luxo. Sorte ter minha lua em escorpião. Eva: sim! Dá ferroadas com o cu! Você tem cuidado bem desse escorpião que anda manso, manso. Ferroadas com o cu é lindo. E minha lua em gêmeos, gente? Lua babado por excelência. E que isso significa?! Sacanagem. E assim seguiram as duas em mais uma noite inefável e contente. E Deise andava sumida.

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