quinta-feira, 17 de junho de 2010

debaixo d´água




"a boa Terra". Acabei de ler isto na página de uma amiga e me dispus a pensar sobre o assunto. Sobre esta bondade Terrosa, Terrena, sei lá... Sobre a benevolência. Porém me cansei de pensar sobre este assunto no mesmo segundo em que parei para me espreguiçar. Sinto um sono tamanho. O sono me come e eu levanto rijo. Desperto para os afazeres corriqueiros e há tanto para ser feito. Um evento me desloca de minha rotina e isto, para mim, implica num certo estresse, na falta de palavra melhor. Na ausência de um cotidiano mais aprazível eu corro para o adorável mundo das palavras soltas, que transpõem, com a devida limitação, as flutuantes emoções concernentes ao ser. Ser algo. Ser algo que não se é ao olhar do outro. Buscar estar. Estar e ser, verbos que se confluem como as águas... E como vem à cabeça água... Quanta água! Doce, salgada, sempre água. Tenho sede e não há água no bebedouro. E há água a minha frente. Posso vê-la. E até poderia senti-la, mas não bebê-la. Devaneio sobre a sensação que já gozei inúmeras vezes em minha vida, de voar sob a água, aquela massa densa, que se difere do ar por uma pequena diferença de valor químico, considerando a minha honrada ignorância sobre o tema. Divago sobre esta emoção sem rumo algum. Apenas pelo desejo de dizer algo. Somente pela necessidade, rara e instintiva, de refletir sobre as águas. Não vou a lugar nenhum, reitero. E não vou, pois fui incumbido de uma missão fantástica (com e sem ironia). Tenho prazo de entrega para criar uma história, uma aventura, cheia de emoções que despertem o saber, abordado e desenvolvido, acerca de um tema específico e blá, blá, blá. Isto é, preciso adequar um projeto educacional a uma fábula. E para aonde eu vou? Para o fundo d´água me refugiar. Porque sob a paralela atmosfera, densa e molhada, que me permite voar eu me sinto em mim. Ali, n´água, me encontro em mim e me disperso. Decolo num voo contínuo e alcanço longitudes, que me fazem sentir o vazio inexplicável e silencioso. Logo, exaspero o ar que preciso inspirar, a procura de vida, e eis que a encontro, num único e sensato disparo rumo à superfície. As belezas do plano em que respiro me deixam sedado, em um êxtase contínuo que (eu) gostaria jamais ter fim. Entretanto, ouço vozes femininas que clamam minha presença e que rompem meu encanto, me lembrando que o canto de uma sereia pode ser uma armadilha atroz. Intuitivamente mergulho mais uma vez e percebo assim, que a distância é a mais profícua maneira de ser invisível e é chagada a minha vez de cantar. E tão logo eu canto, me assombra o encanto de ser quem sou.

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