quinta-feira, 2 de junho de 2011

lava de mim.



Querida Eva, há muito não relato algum acontecimento ocorrido entre o nascer e o morrer do sol. Pois bem. Não pude deixar de pensar em você quando minha companheira de escritório entrou em minha sala em busca de algum mantimento comestível. Acabava de ingerir uma maçã verde, que precedeu uma barra de cereal, que sucedeu uma banana. Juntas refletimos sobre essa obsessão em ingerir substancialmente, de tempos em tempos, alimentos. Manter algum autocontrole é imprescindível por questões, sendo franca e límpida, mais relacionadas à estética. De súbito...


-Vamos embora? Vim trazer sua alforria!

(logo hoje que queria ficar mais um pouco no escritório...) - Vamos! (não se nega a liberdade concedida pelo chefe sob nenhuma hipótese).

02 de junho de 2011.

- bom dia!

10h ela (meu capitão do mato e minha princesa Isabel) cruza o corredor do escritório. Seus cabelos molhados balançam fagueiros em câmera lenta, acariciando sua nuca, enquanto seus olhos entre abertos, ainda amarrotados enternecem minha manhã, logo após a madrugada infame que vivi. Volto ao computador.

Caríssima Eva, sinto-me mais repulsiva e ordinária que uma barata em franco desespero a correr de um lado ao outro enxugando a morte iminente por mera pulsão de vida. Acuada em uma quina qualquer, ameaçada por alguma ave miserável que lhe ataca com bicadas incessantes e ufa! jamais certeiras... Sobrevivi a mais um ataque da entidade facínora que possui Mauro em madrugadas incertas e que fazem-me ter a consciência de que meu fadário é. Simplesmente é. O sentimento que morde, que avança e que eclode como lava de um vulcão que acorda para acudir o aflito que de frio resiste em morrer. Guiada por meu instinto sucumbi ao brado furioso, como o de um animal no deserto ao perder o oásis de vista pelo soprar bravio de uma tempestade de areia. Foi assim que estive durante o novo ataque, do cruel monstro que surgiu para ferir-me usando armas lúgubres e injustificáveis apenas para ver meu sangue escorrer até eu cair. Como fui barata, não havia sangue. Como fui vulcão escarrei fogo e maculei o bicho insano com a ferroada da calda de meu aliado escorpião. Aliás, grande amigo! Deixou a lura para salvar-me de um golpe sujo com feroz exatidão. Cansei-me de ser acusada por torpe e frustrada quando sou Diana, deusa de pontaria audaciosa e perspicácia sagaz. Como poderia meu objeto de afeto tornar-me barata frouxa a zunir impensada para a imensidão de um esgoto injusto e desprezível, apenas por uma mera questão de... tolice podre. Besta covarde que habita a aurora ausente e que o preserva autóctone e soturno, enquanto na alvorada insiste em me ludibriar por aí. Sendo assim, persisto devoto de ti, amiga maior, para dizer-te estar puta e ferida como fera e megera que sou. Deixo meu relato, em meio a cena de novela - em que o antagonista atropela e mata a mulher de seu irmão protagonista ( visão que glorifica minhas palavras)- com sede de vingança e essa não poderia ser melhor definida pelo meu adeus antes do fim. Pois que, sabes bem tu, tal arma antiga e velhaca é expressão eficaz do veneno que arde em meu ferrão zoado. Quão bem faz destilar veneno denso e amargo, que escoa lento até o chão, quando lhe pousam abelhas introduzindo-lhe sabor de mel. O que fazer com o amor? O que fazer dele quando se sabe que só, ele não sobrevive e que precisa d´outros para se suprir do existir. Esses outros, por vezes, são tão contrários a si, que comungam a paixão confluindo a célebre emoção sem razão e que simplesmente é. Não sei. Apenas sim. Sim. Sinto. Sinto como vulcão. Como fogo ardente sedento d´água e de açucar e de seu pau calando a minha boca.

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