quinta-feira, 25 de agosto de 2011

inutilidades crônicas.



O tédio rolou solto ontem. Não pude frear meus devaneios. É tão complicado ter que lidar com todas as limitações que a rotina impõe. São tão vastas as impossibilidades de realizar tudo o que desejo. Ou seja, tá tão foda de suportar tantos nãos que me resta viajar... Metaforicamente. Pois em termos concretos não tá dando para ir a Belford Rôxo (que nome é esse, gente?!). Sendo assim, deixo minha imaginação ir ao longe, ao infinito. Melhor aproveitar enquanto ainda não é preciso pagar por esse serviço íntimo. E, olha, mesmo assim não está fácil. São tantos ruídos lá fora que até a imaginação sofre retaliações. Nem ela, pobre de mim, consegue ser tão fluida. Queria isso, queria aquilo, mas não. Não pode. Não dá. Não há maneira. É o trabalho. São as contas. São as incontáveis responsabilidades. Não vai rolar aquilo. Não tem como acontecer isso. É a crise do fulano. É a dor da beltrana. É a babaquice de uma amiga. É a putaria de uma conhecida que destrói a própria família. É o caos planetário. Pohãn (RIP Marilac - Amay, Katylene - bordão decadente. Era de Aquário. Era do efêmero?) Resta seguir em frente. Resta mesmo se calar e tentar extrair o prazer daquilo que há. Resta perceber que é isso que é.

Lá fui eu pegar o 410 ao fim de mais um expediente. Escutava um som. Não me lembro mais qual era. Alguma coisa que tornou meu estado de semi depressão ainda pior. Não consegui passar a música adiante. Deixei o bode amarrado na pernoca para sofrer bastante através do gozo melancólico de quem queria estar muito além, mas em realidade só poderia estar naquele ônibus. Dei a sorte de conseguir me sentar. Estava vazio e ao passar pela roleta quase fui jogado sobre outra passageira após a sutil arrancada que dera o condutor daquele veículo. Coisas tão comuns. A tal música estilo vala's music acabou e de repente surgiu a voz de Tom Jones, aquele brado fanfarrão a repetir: TURN ME ON (3 x)! Automaticamente decolei alto e vivenciei (imaginei) a seguinte cena:

Campanha nacional sobre trânsito. O mesmo ônibus para na Glória e eis que embarca mais uma passageira. Uma bailarina. Ela está vestida com uma legging e um short por cima. Usa um top, um casaco, uma faixa na cabeça e os cabelos enrolados em um rabo de cavalo. Os fones no ouvido, um old school nos pés e uma bolsa grande nos ombros. As cores predominantes são: verde, amarelo e azul. Menção a bandeira brasiliana. Há outras cores compondo o look. O visual (palavra escrota) é colorido e vibrante. A menina para na roleta e abre a bolsa para pegar a carteira e pagar a condução. TOM JONES a todo valor. O motorista acelera e ela voa sobre a roleta. Sua bolsa vai para um lado e a carteira para o outro. Ela dá um salto estilo Flashdance e a partir de então surta em uma coreografia enérgica, delirante e genial. Todos os outros passageiros tentam catar os seus pertences enquanto a menina elabora passos incríveis a cada manobra radical do motorista nonsense. Os outros passageiros ensaiam alguns passos tentando acompanhar o ritmo da bailarina. Um musical urbano, dentro daquele ônibus! Energia pura! Frenesi total! Perna para cima! Ciseaux, cambret, changer! Vira para cá, vira para lá! Agarra o banco e changer, sans! Cambriole, chasse!! Uhuuu!! A música termina e o motorista dá uma freada violenta. Todos voam para fora do veículo através das janelas. Nenhum ferido. Muitos cacos espalhados no chão. Aterro do Flamengo. A performance é encerrada com todo o elenco se entreolhando assustado. Fade in.

*Algum dizer sobre a responsabilidade que tem um motorista*

Um absurdo! Poderia ser um esquete da saudosíssima TV Pirata ou da atual Comédia MTV. Uma bobagem. Uma tremenda diversão. Ao menos para mim. Peguei-me rindo a sós com aquela cena desenvolvida em minutos, através da excelente SEX BOMB. Quisera eu ser a bailarina. Não fui muito eficaz ao tentar transpassar o que me ocorreu naqueles instantes. Mas foi bom demais! Viva a liberdade interior! Bastou a música terminar para que a realidade viesse em fúria outra vez. Que saco aquele cheiro forte de creme barato no cabelo da menina que se sentou ao meu lado. Ai, ai...

Chego a casa e mais problema. Marido em crise. Atenção, amor e carinho. Academia. Um sanduíche. Um break. Minhas amigas. Um risoto. Duas taças de vinho. Excelente conversa. Imensa alegria. Volto a casa. Conforto e vazio. Sono. O sol nasceu escuro. Oximoro. Tudo outra vez. 410. iPod. Tédio. Choro da amiga no trabalho. Dor de outra amiga narrando seus infortúnios pelo whatsapp. Marido distante. Internet falha. Computador em disfunção. Companheira alheia. Consolo a amiga que sofre. Material World. I’m a material boy. We’re living in a material world and I’m a material boy. Após tudo o que ouvi concluo: melhor não reclamar, but I’m material boy, repito. Phoda. Me deu uma vontade de dançar She’s a Maniac daquele jeitinho do filme (Flashdance outra vez).

Adendo: enquanto terminava esse texto escutava a Madonna dizendo: we don’t have to be rich and famous to be good. Great. Fácil, não? Ela esqueceu que psicopatizou e muito para chegar cá ou lá, onde está hoje. Investi dinheiro nessa mulher. Consumi. Tudo isso para aos 53 ela deformar o rosto e me aparecer com a face do Fofão Balão Mágico. FofONNA. Phoda. Antes tivesse investido apenas na turma do Balão. Aliás, é curioso, mas tenho horror. Não me traz nostalgia alguma escutar nada daquela trupe. Causa-me um constrangimento imensurável ver adultos dissipando suas dignidades em festas vexaminosas onde rolam soltas essas músicas deprimentes de uma velha infância desnecessária. Encerro aqui minhas inutilidades crônicas de hoje.

Um comentário:

  1. Ahhhh!
    1. *AMEI* a parte do balé alucinado no ônibus ao som de Tom Jones!!!! Você curte William Burroughs?
    2. A Madonna está com a cara do Fofão?
    3. Também acho deprimentes os caras de escritório de 30 anos dançando Balão Mágico.

    ResponderExcluir