sexta-feira, 26 de agosto de 2011

margot. capítulo I. esboço.



Um dia frio na serra carioca, mais especificamente em Itaipava. Chegam alguns novos filhotes à Pet Shop, PET POP. Em meio aos vários filhotes há uma coelhinha da raça mini lop. A única de uma ninhada que chegou à lojinha da pequena e pacata cidade. Ali dentro os animais eram separados e ficavam dentro de vidros que lhes permitiam ser observados e tocados por todos que ali passassem. Tudo era muito limpinho e bonito, porém é sabido que nenhum bichinho é feliz assim. A loja era muito organizada e movimentada e se encontrava num shopping local. Havia no pet shop uma televisão bem grande que transmitia 24hs o canal ANIMAL PLANET. Curiosamente a única coelhinha do Pet era o filhote mais curioso e inquieto. Ela era absolutamente fascinada pelos programas transmitidos no canal. A coelha passara um mês ali e desenvolveu uma grande revolta contra os seres humanos, sobretudo contra as crianças. Tudo fruto do seu doloroso sentimento de rejeição. Fora arracanda de sua família, jogada naquele inóspito lugar e ainda por cima era torturada pelas crianças que visitavam o local e a achavam linda e fofa gimaix. Elas a apertavam, esmagavam, cheiravam, beijavam, mas jamais convenciam seus pais a levarem-na para suas casas. Cada vez mais a sua indignação aumentava. Ela se sentia enraivecida e tinha um comportamento atípico para uma mini lop. Admirava cada vez mais os programas sobre a vida dos leões nas Savanas africanas. Sonhava em ser como as leoas. Bonitas, fortes, independentes e, sobretudo livres em seu habitat natural. Tornou-se famosa na lojinha como a coelhinha que mordia. Sendo assim, parecia cada vez mais impossível vendê-la. Seu destino era incerto.

Letícia, 30 anos, mãe de uma menina homônima de oito anos, vivia no Rio de Janeiro, num aconchegante e pequeno apartamento no Humaitá. Separada, tinha bom relacionamento com seu ex-marido, Ricardo, que fora seu namorado desde a adolescência. Trabalhava muito. Era analista de sistemas e sua filha, curiosamente, não era dada às grandes pérolas tecnológicas da atualidade. A menina parecia viver fora do seu tempo. Imaginativa, tagarela, divertida e espirituosa adorava brinquedos artesanais, inventava mirabolantes histórias e estava sempre a falar e a criar aventuras. Gostava de plantas e de animais. Sentia falta de um irmãozinho e, por vezes, sua mãe a achava fantasiosa em demasia. O prédio em que moravam era antigo e não tinha play. A criança passava o dia todo na escolinha e fora dela tinha pouquíssimo contato com outras crianças da sua idade. Um de seus brinquedos preferidos era a Babá. Bonequinha de pano que sua mãe recebera aos 10 anos, quando viera morar no Rio de Janeiro.
Letícia, a mãe, passara uma infância pacata na cidade de Ouro Preto e tivera uma babá, chamada Mariana. Mariana era uma senhora gorducha, muito carinhosa e excelente cozinheira, cheia de histórias folclóricas para contar. Criara a então menina como filha e quando a família decidira ir para a grande cidade, em meados da década de 80, Letícia sofrera muito por ter que se separar de Mariana. Esta, por sua vez, costurou uma boneca em sua imagem e semelhança e lhe dissera que esta seria a forma que teriam de estarem sempre juntas e recomendou a pequena que conversasse com a boneca sempre que quisesse. E assim ela o fez até chegar a adolescência. Contudo a boneca Babá jamais fora deixada de lado. Decidira guardá-la para presentear sua filha quando um dia ela a tivesse. Assim sendo, depois de um longo período de namoro com Ricardo ela finalmente engravidou, e quando sua menina completou três anos recebeu como presente a bonequinha de pano. Tal como sua mãe outrora fizera, a pequena Letícia também danou a falar com a boneca. O que parecia aos olhos de sua mãe muito natural, uma vez que ela em sua tenra infância cultivara o mesmo hábito.

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