terça-feira, 22 de novembro de 2011

encore une fois.



Paola, dear! Acabo de ler o seu email e: a=pa=vo=ra=da. Mal posso acreditar naquilo que li. Paola, quem diria, tornou-se a mais nova menina bahiana com jeito de deusa dos trópicos. Nada como um bom mergulho naquele mar caribenho para alterar os temperos dessa vida, não é mesmo? Haja dendê e ervas da Provance.

Hoje passei por mais uma, dentre as inúmeras e incessantes, situações humilhantes da minha vida. Recebi mais um não para a minha coleção de outros incontáveis tantos. Sabe aquela vaga com a qual tanto sonhei? Aquela mesmo, com quem tanto fiz planos. Aquela que me fez acreditar que tudo seria diferente, que finalmente poderia trilhar um caminho novo, alternativo e mais feliz para minha singela vidinha. Aquela que oferecia inúmeras e interessantes oportunidades de capacitação, aquela que me levaria ao exercício diário da escrita, meu prazer mais visceral. Aquela vaga que faria sentir-me orgulhosa no alto do meu salto que já pisava leve a irradiar vigor pelo corredor. Ficou horrível essa frase. Não foi intencional essa rima uó. Deixei-a passar apenas pelo fato dela condizer com o dia do não.

Tudo uma merda.

Não consegui a porra da vaga dos sonhos, Paola. Justo agora você vai para a Austrália e me deixa aqui sozinha.

Sou uma tola. Porque, de qualquer forma, ainda que aqui você estivesse tudo o que poderia dizer não seria nada além das suas cruas verdades. Diria apenas que é isso mesmo e seguiria feliz em seus afazeres. Tudo bem. Que se foda o não.

Mas vamos lá mesmo assim.

Dei uma choradinha. Me emocionei por auto piedade. Chorei calada, sozinha. No banheiro, na cozinha e na sala da colega do escritório. Chorei quando pensei que o problema é comigo. Chorei quando me senti uma fracassada. Chorei quando pensei no incerto ano que se aproxima. Chorei quando lembrei do massacre ao meu ego que representou o ano de 2010. Temor absoluto. Frustração. Cansaço. Fatiga.

O que será de mim?

O ano nessa cidade só começa em março, isto é, tou fodida, tou cagada. Puta que me pariu! Por que tudo é tão difícil para mim? Caralho, vai tomar no cu! Quero que o mundo acabe, quero que o candidato que conseguiu a vaga, conquiste algo muito mais incrível na sua vida e que lhes deixe na mão.

Isto é, Paola, em suma: sofri como uma vaca que perde o bezerro. Me fudi. Aí resolvi praguejar todo o mundo. Me enraiveci. Mas sabe o que aconteceu depois desse circo?

Pensei. O seguinte:

As coisas nunca foram fáceis mesmo. Sempre houve pedras e mais pedras e toda sorte de trolhas no caminho. Já levei inúmeros foras na vida, ou da vida (voz). Fato é que já sou um pouco calejada, néan? Menina, depois daqueles espasmos de nervosismo contido que tive lá no escritório, retomei a reflexão de maneira mais sensata.

Tentei. Não consegui.

Rapidamente, fui mais uma vez possuída pela ira e maquinei pequenas e absurdas vinganças contra a humanidade. Já cansada de tanto pensar peguei o iphone para procurar uma trilha sonora que pudesse alimentar aquele momento. Vício. (T.O.C).

Escolhi uma vala’s music, deprê total, bem 'afunda a carranca na lama dos vitimados' e sequer surtiu efeito. Fiquei apavorada. Deixei o modo aleatório, mais incompetente da história(pois escolhe sempre a mesma sequencia de merda), rolar e eis que fui contagiada por um sambão que me abalou, surpreendentemente!

Assim, mais empolgada pelo samba, segui meu caminho até meu doce lar e acreditei ser mais uma das muitas brasileiras que levam, com dignidade, uma boa e ardente “vida de mulata”*** em plena Saint Sebastian of January River (apavorada com o horror desse nome em inglês).

Fazer o que, não?

Ao chegar, bem calma a casa, resolvi regar minhas lindas plantas e o borrifador, fofo que eu amo, quebrou em minhas mãos enquanto eu as molhava. Foi difícil não associar o incidente à péssima notícia que recebi. Ou seja, neurotizei e achei que tudo que está acontecendo hoje, prova a minha teoria imunda de que “hoje não é o meu dia”.

Silêncio.

Não tardou para que eu percebesse que seguir essa linha de raciocínio seria inútil, afinal todos passamos por isso na vida,não é mesmo? Todos temos nossas dores, angústias e frustrações e, portanto não sou uma barata desprezível. Viajando nessa onda “positiva”, resolvi acender um cigarrão. Porém o isqueiro, simplesmente, parou de funcionar de uma noite para a outra. Inacreditável. Pensei, até mesmo, que poderia ser alguma problema com minhas mãos, tipo 'toco = destruo'.Fui ao banheiro e ao puxar a descarga deixei a toalha de mão cair no vaso. Isso significou que perdi uma toalha, do meu pequeno enxoval, para as bactérias.

Decidi não malhar, não sair de casa, sob nenhuma hipótese. Achei prudente tragar o esquecimento e relaxar ouvindo os ruídos da rua.

Daqui a pouco ligo o som e tomo uma banho e vou jantar e assim seguirá tudo, tal como o antes, o hoje, o amanhã. Chove lá fora. Como gosto desse barulho.

Para tudo há alternativa, não é mesmo¿

Só posso mesmo ser simples. Simplicidade, muitas vezes, é puríssima sofisticação.

Felicidade agora seria a mais franca mentira.

Sou phyna.

Diana.

*** POIVRE, Daniel et al. Vida de Mulata. 1. ed. Rio de Janeiro: Ed. Urus Truculentus, 2011.

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