quinta-feira, 24 de novembro de 2011

petit cadeau.



Ah, Alberta, estou tão, tão... não sei se estou sendo dramática. Estou preocupada com a Diana. #pronto falei. Não é assim que os jovens se expressam hoje em dia? joguinho da velha + palavra chave = hashtags. Apavorada como sou uma cacura por dentro. Adoro essa pontualidade fútil. Ai, ai, não sei a quem a Diana saiu, gente. Tão sofrida. Tão densa. Tão plutoniana. Tão uraniana. Tão saturnina com ela mesma. Ai, coitada. Que coisa. Uma dificuldade para lidar com as adversidades. Sinto-me tão arrasada. A menina está dilacerada, Alberta. Não sei o que dizer a ela, tão talentosa, inteligente, espirituosa. Mas uma burra, uma anta, uma verdadeira toupeira emocional.

Que é isso, Maria Joana?! Você não é sempre tão positiva? Está vendo? Não é fácil mesmo lidar com os entreveros de toda ordem, Maria Joana. Desde quando foi fácil lidar com os nãos? O problema dessa menina é você! Olha, Maria Joana, só não cometo uma atrocidade porque, para a sua sorte, você está do outro lado dessa linha invisível que nos liga a quilômetros de distância (acho ma ra vi lho so . Jamais me cansei de apreciar essa fantasia concreta). Como você chama a menina assim? Que horror! Ainda bem que ando pacificada.

Ah, Alberta, mas... Não sei lidar. Tenho pavor de sofrimento. Não lido bem com isso. Coisa desagradável.

Para agora com esse “ah, Alberta”! Depois eu desligo o telefone na sua cara e você me chama de grosseirona. Eu?! Sou é muito franca, meu amor. No alto de minha vida semi centenária, já desenvolvi alguma sabedoria. Ah, isso me fez lembrar tanto de uma imbecil do meu passado com quem encontrei no início do ano. Uma cretina que, em meio a conversas condizentes com a sua boçalidade, quis me convencer que o tempo é atemporal e que qualquer experiência que tivemos em nossa vã existência é nada frente ao infinito. Ou seja, todos os meus 62 anos de nada me valem frente ao cosmos. Ok, o que são 62 anos em um contexto tão impensável? Mas não me venha dizer que de nada valeram porque não. Não dá. Meu cu, Maria Joana, para esse tipo de colocação fundamentada em argumentos místicos. Não que eu os desqualifique. De modo algum. Mas vindo dela... Ora, me poupe. Aliás, meu cu não! Meu excremento para ela. Pois meu cu tem imenso valor. Eu hein. Mas seguindo adiante, MJ, devo dizer que entendo a Diana, viu? Escutar suas lamúrias faz com que, inevitavelmente, eu revisite meu passado. Afinal, sempre fui uma ansiosa incorrigível como a Diana. Ah, saudades dos tempos d’outrora. Saudades da aurora de minha vida. Ai, que horror! Vamos transmutar essa melancolia. É isso. Bom, mais tarde convidarei a Diana para jantar comigo. Certamente tenho coisas mais interessantes que as suas para dizer a ela.

Ah, Alberta, que coisa, que horror! Muito apavorada! Não precisa vir com 7 (número cabalístico porque estou mística) pedras na mão! O que você diria a ela que eu não poderia dizer?

Primeiramente que não escute a você e suas ladainhas insanas e inoportunas em um momento tão delicado. Lembra, MJ, que chegar aos 34 é uma batalha? Você se lembra bem do quanto conversávamos? Sei que sua memória é bastante defasada pelo uso contínuo de ervas tão naturais, mas concentre-se. Revisite o tempo. Aos 34, éramos ainda jovens, mas já nem tanto. Aos 34 entendemos, cruelmente, a finitude da vida. É visceral. Percebemos o deus tempo de outro modo. Compreendemos o seu peso e o seu valor e a sua importância. O deus tempo é tão poderoso, fascinante e implacável que se torna assustador. Aos 34 queremos resoluções para males já antigos. Desejamos nos livrar dos incômodos remanescentes. Lutamos para deixar para trás aquilo que se arrasta sem mais razão e ainda assim, a nossa vontade não é capaz de concretizar nossos ideais. Mais que isso, há aqueles resquícios que não foram deixados para trás pela simples percepção da realidade que nos desperta sem qualquer pudor. Aos 34 é preciso fazer um balanço da vida para que novas escolhas possam determinar a próxima vida que se inicia aos 40. É um período angustiante. Mais para uns que para outros. Diana é uma romântica incorrigível. Uma sonhadora e uma idealista. Sofre mais um pouco que muitos. Mas pequenas crises existenciais são bem vindas. Não se preocupe tanto. Confie nela. Ela saberá o que fazer. Ao beirar os 34 (3+4=7=número cabalístico=misticismo=adoro) é natural que ela se sinta frustrada por ainda ter que resolver assuntos que julga estarem esgotados. Enquanto há vida, não há fim definitivo. Ela ainda não entendeu que se determinadas questões ainda pulsam no ar em que respira é porque restam fragmentos do passado que necessitam ser trabalhados. Esse papo de passado é um porre, mas é inevitável. É preciso investir em desapego e, portanto é necessário reinventar antigos maus hábitos. Para alguns funciona assim. Para a Diana é um estilo de vida. Mas ela vai se reestruturar. Quantas coisas essa menina já passou. Ela sempre levanta, sempre sai melhor e mais segura ao fim de cada desafio. Convenhamos, o pior deles foi ter sido parida por você.

Ai, que horror, Alberta. Estou preocupada, sou mãe, sou apavorada. Tenha algum respeito e carinho. Diz que me ama.

E o que mais exprime esse meu gesto, que não carinho? Você é uma pândega, MJ. Todos dizemos "eu te amo" e são inúmeras as maneiras de dizer a mesma coisa. É impressionante. Não sei como somos amigas há mais de 30 anos. Aos 59 (mentira. 62) ainda te aturo. Estou fatigada hoje. Pouco inspirada. Não insista em provocações tolas. Vamos desfilar na Vila Isabel? A Gabi Miracle enviou o email com as coordenadas para que desfilemos na ala que ela representa. Estou animadíssima, só que não, sabe? Tal como direi a Diana, é preciso balançar a tristeza, meu amor. Tem acompanhado o noticiário? Nojo do Sérgio (Cabral). Precisamos discorrer sobre esse ponto em breve. Ganhei um chá de coca da Ortega Flores e estou a-pai-xo-na-da. Frescor dos mais altos picos bolivianos. Uma delícia. Ah, Maria Joana, começo a escutar uma canção que me parece muitíssimo apropriada ao momento da Diana. Vou enviar a ela esse petit cadeau:

“(...)mon dieu que c'est moche, c'est ennuyeux. tu t'es joué de moi. Mon dieu que c'est cloche de se dire adieu et paris est si froid. mon dieu si tu existes même un peu. ramène-moi. mon aquarelliste si vaniteux qui ne peignait que moi, même si le temps passe je n'oublie pas: le samba de jours avec toi, le samba de mon coeur qui bat”.

Que linda essa música. Irônica. Acho que vai cair bem. Vou convidá-la para um vinho. Deixe-a em minhas mãos e devolverei sua joia polida e ainda mais reluzente. Adooooro ( é tudo o que eles dizem hoje. É como vírgula). Lamento por não ter ido além. Mercúrio deve andar retrógado ou em vias de. C’est ça pour aujourd’hui. Pouco profunda. Bastante otimista (ainda que você acredite no contrário). Como sempre. Não é possível nos entregarmos às tragédias pessoais. O pensamento é o condutor mais poderoso de todas as nossas energias vitais. Com isso, direi a Diana o seguinte: sofra, chore, sinta-se péssima. Por pouco tempo. Reaja, repense, resista ao lado negro da força. Seja combativa. O mundo acaba inúmeras vezes na vida, mas a gente sobrevive; Descarregue suas dores e compreenda suas razões. É assim. Os ciclos não cessam e tampouco a luta. Não há gozo mais esplêndido que o provocado pela superação. Diana sabe bem disso. Basta seguir. Ela conhece o ensinamento. Soube usá-lo por instinto outras vezes. Isso prova minha teoria de que a sua força é inerente a sua essência. Nos falamos.

Alberta.

Obs- Escuto ao fim desse email “satisfy my soul (bob marley)” e aos 59 (mentira. 62) sinto-me uma menina de 20 em Trancoso, pela primeira vez. Ai, ai. Calor que provoca arrepio.

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