segunda-feira, 18 de julho de 2011

lotus machine.



Exaurido pelo efeito de não apenas um, mas de três eclipses, sendo o último deles solar, fui em busca de um refúgio. Algumas músicas me ocorreram. Algumas letras. Algumas imagens. Nada era muito claro. Não conseguia me concentrar em nada. Era mais cedo quando dei um salto no passado. Extraí da memória aquilo sobre o qual lembrava, e o que vi foi o oceano pacífico em plena costa californiana. Meu saudoso exílio. Jamais pisei naquela areia, mas é para lá que fui inúmeras vezes provar das mais deslumbrantes miragens. Lá, bem lá, o sol e a lua sempre brilham devagar e colorem de reflexos inúmeros tudo mais o que houver. Sempre foi lá que meu sonho me deixou descansar calado pelo degredo do meu chão diário. Foi lá, naquele final de tarde de verão em pleno janeiro de 1995, o meu destino, após decolar em lótus, pela primeira vez, por intermédio consciente das ondas transcendentais. Foi ali que descobri a existência de tal veículo que me permitiu projeções incríveis - e que desaprendi a usar. Lembro tanto do barulho daquela chuva farta que refrescava com alento o ar e que trazia o perfume da noite molhada e que custava a chegar. Daquela chuva que caiu profunda e que serviu de condução a minha primeira grande viagem. Éramos apenas eu e o mundo. Em sintonia. Senti-me presente no universo após ausentar-me do cotidiano que naquela tarde também era tão bonito. Cheiro de chuva sobre o gramado vasto pelo qual voava. Era tão simples. Minha respiração me conduzia a alturas suaves de quem se expande sem temer. Meus olhos fechados me levavam às visões múltiplas e muito além dos raios do meu enxergar comum. Era tão leve ser eu e só. Éramos suaves eu e ele em uníssono. A cidade transbordava de chuva e eu me desdobrava pelo ar que dispensava qualquer força gravitacional. Aquela sensação me trouxe uma paz até então desconhecida. Trouxe também uma nova euforia. Pois ali, naquelas alturas, sonhei apenas em permanecer voando. Ainda hoje volto à memória daquele tempo que não se foi. O tempo não se esvai. Somos nós que nos vamos. O tempo é tempo o tempo inteiro. Somos nós por entre ele e não extamente ele por entre nós. Hoje fui lá e cá estou, agradecido, por tê-lo. Não me refiro ao tempo. Pois sim ao mistério. Do encontro. Obrigado.

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